sexta-feira, agosto 10, 2007

Histórias da Sereia

In: pires.blig.ig.com.br/


Os encantos do mar

Seis horas da manhã. Nem um minuto a mais, nem um a menos. Quando percebi, eu estava sentada sobre a cama olhando, pela janela, o movimento que não existia na rua. Uma vontade de chimarrão me acometeu. Apesar do friozinho que despertava a preguiça em mim, levantei-me, preparei a cuia, a erva, aqueci a água... Mais uns minutos, o chimarrão estava pronto. Resolvi que o tomaria na sacada. Algo me fizera despertar, abrir as cortinas e olhar para a rua, como se algo ou alguém fosse chegar, por isso, resolvi que iria ver o que tanto me chamava à rua naquele horário.
O dia estava se descortinando, o sol ia se fortalecendo, as pessoas começam a aparecer. Ainda eu pensava o que teria me feito desejar ver a rua naquela hora. Afinal, era segunda-feira. Apenas eu, uma pessoa a espera de uma ligação para atender a uma vaga de emprego, estaria com aquela manhã livre para olhar a rua.
O dia estava avançando cada vez mais, eu já estava perdendo a vontade de ali permanecer... Resolvi que pegaria o romance que eu estava lendo e ali daria continuidade. Assim que entrei na sala, o telefone tocou. Atendi-o, mas a ligação caiu. Irritei-me, pois a cada vez que o telefone tocava, uma esperança despertava no meu peito. Tomei o romance em mãos, voltei à sacada, enchi a cuia novamente com a água quente e dei início aos processos, o matear e o ler.
Certa altura da manhã, cansei-me do livro e a água quente acabara. Resolvi que já era hora de preparar algo para almoçar. Abri a geladeira, não havia nada que me despertasse o apetite. Arrumei-me então e me dirigi ao feirão.
A caminho, pelas ruas que passava, percebi que o dia estava diferente. A tonalidade das cores era forte e essas se tornaram mais vivas. Havia um capricho especial da natureza. O vento soprava delicadamente e o sol apenas iluminava, neste dia, ele não queimava nada por onde permeava.
Uma alegria estava se instaurando no meu peito. Não era qualquer alegria. Era uma alegria que eu jamais sentira na vida. Como se Deus estivesse me abraçando e me dizendo que um verdadeiro milagre aconteceria. Não. Definitivamente. Era algo diferente disso. Blasfêmia, ou não, digo que a alegria que me invadia era maior que Deus. Era uma alegria que não se deve ser de costume acontecer na Terra.
De repente, um desejo me invadiu a mente: ir à praia. Não queria ir mais ao feirão, de repente, nem quisesse mais almoçar. Tomei o rumo ao contrário. Dirigi-me à estrada da praia.
Praia linda. O mar estava suave. A brisa que dele soprava parecia um encantamento. Quando dei por conta, estava descalça, tinha amontoado as sapatilhas junto à bolsa e já estava com a água pelos joelhos. Ali permaneci sentindo a brisa me envolver.
Escutei alguém me chamar. Não sei quanto tempo ali estava parada. Não me chamavam pelo nome, apenas me chamavam. Sabia que era a mim que chamavam, pois a praia estava deserta. Olhei em volta nada vi. Voltei os olhos para o horizonte azulado e avistei uma pequena embarcação de pescadores. Como que se o encantamento das brisas passasse, resolvi voltar à areia e pegar minhas coisas.
Quando quase pronta para retomar os planos de ir ao feirão, da embarcação que havia já chego à praia, a voz de homem, como aquela que havia pensado ouvir antes, me chamou por três vezes. Olhei para a embarcação e de lá esse homem me acenava.
Aproximei-me e dele ganhei um pacote de pescadas. Eu nada entendi, e para não me deixar sem jeito o rapaz me explicou que era tradição ao voltar da pesca oferecer como presente uma porção do arrecadado à primeira pessoa que eles avistassem de alto mar. Caso não houvesse ninguém na praia, seria um mau presságio para a próxima saída para o mar. Aceitei, agradeci. Mas algo a mais acontecia naquele momento.
O rapaz, depois de me entregar o pacote rusticamente feito com os peixes, segurou-me pelo braço quando eu ia me virando para retomar meus caminhos. Os olhares se cruzaram e a brisa voltou a oferecer o seu encantamento.


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