sábado, setembro 23, 2006

União

Um conto tonto: A Perfeita União
Certa noite, duas amigas encontraram-se após as aulas noturnas e caminharam em busca de um belo cachorro-quente, afinal, nada melhor para matar a fome de universitários em plena quinta-feira. Escolheram o lugar de quase sempre: o cachorro-quente do posto de gasolina da estrada geral.
Sentaram-se numa mesa localizada ao canto sob a modesta cobertura. Veio o atendente e as entregou o cardápio. O papo começou, a escolha começou. Mesmo já sabendo o que queriam desde a saída do campus, a escolha entre tantas opções de lanches foi demorada. Mais demorada ainda porque a cada opção, um ponto a mais no papo da semana. Quinze minutos se passaram, o atendente voltou à mesa e saiu desolado, as moças não sabiam o que queriam, apenas para variar. O papo era sobre a falta de dinheiro, homens canalhas, falta de opção de homem na terra gay, excesso de livros para serem lidos, homens, dinheiro, fila enorme no restaurante do campus, homens canalhas, garotas metidas, falta de dinheiro... Homens.
Quarenta minutos se passaram e uma das moças chamou o atendente que foi com cara de pastel atendê-las. Ambas pediram hambúrgueres, necessitavam variar. O pedido demorou mais uns dez minutos: tira isso, põe aquilo, abate isso no preço, acrescenta isso... Bem passado, mal passado, a maionese é caseira? Quanto deu? Quanto tempo demora? Queremos logo, temos fome! Ah, não é para prensar!
Enquanto os lanches não vinham, entre o papo fiado de sempre mesclado às fofocas e conspirações acerca da vida misteriosa de alguns bichos estranhos do campus, uma das amigas olha para o balcão e impressiona-se com um quarentão com a cara do gostosão do seriado do momento. Fita-o com aquele olhar quarenta e quatro... A outra observa: Há uma aliança na mão esquerda dele. Dane-se, exclamou a outra. Se esse me desse uma carona até em casa, de lá ele não sairia tão cedo. O quarentão parecia estarrecido com aquele olhar provocador... A moça olhara em volta, avistara uma rua escura... Hummm... Ali mesmo ela mataria sua sede de homem com aquele quarentão. Estava tão cheia de sede que era impossível que o seu olhar não transmitisse seus desejos. Acanhado, o homem fingiu não perceber, apanhou o pedido, entrou no carro e se foi.
Chegaram os lanches. Enquanto comiam, pensavam... Uma no quarentão que havia deixado escapar, a outra no ex-namorado com a nova namorada. Vinte minutos depois, os lanches haviam acabado, pagaram à conta e seguiram estrada à frente. Ainda falavam da falta de dinheiro, dos homens, das contas a serem pagas no dia seguinte... Estavam indo rumo à casa da moça do quarentão, era uma estrada escura, longa... Uma idéia as acometeu, uma idéia que casaria perfeitamente o que ambas precisavam: dinheiro e companhia.
As amigas olharam-se, riram, e aceitaram a idéia vinda das necessidades: Unir a fome com a vontade de comer. Parou, então, uma em cada esquina e lá ficaram a espera de um homem de dinheiro em busca de companhia às onze horas e tanto da noite de uma quinta-feira qualquer.

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